things of spring.
- Então me diga por que eu deveria ficar. - disse a menina, de costas para Oliver.
- Eu não tenho nada que te faça continuar aqui, me desculpe. - ele estava hesitante e tremia.
- Tenho que ir.
Eu tenho certeza de que, se soubesse que seria a última vez, Oliver teria confessado. Gritaria pra quem quisesse ouvir o quando amava Lucy, e a tiraria para a última dança ali mesmo, no meio da rua. Oliver, sem dúvida, diria tudo o que não conseguira pronunciar na presença dela nos cinco meses que ficaram juntos, e Lucy ouviria com atenção. Até choraria, se não pensasse, como um mantra, que não deveria fazê-lo.
Eu tenho uma absoluta convicção de que Lucy estaria viva hoje, se ele tivesse lhe dito para ficar. Ele nunca teria ficado tão arrependido. Mas, pensando melhor, quem sou eu para fazer suposições? Só devo contar a história, exatamente como aconteceu.
- Não vá, Lucy. Eu te amo, não vá, por favor. Eu preciso de você.
Ele disse baixo demais. Ela já havia saído.
Ela havia saído da casa dele segurando as lágrimas. Não se daria ao luxo de chorar. Seu coração estava destruído de novo, apesar de todos os seus cuidados para não se apaixonar. Desde o início, ela sabia que terminaria assim, ou imaginara. Pelo menos parte do fim. Tudo que é bom acaba rápido, não é mesmo? Permaneceu parada na esquina da rua onde morava o garoto que fez seu coração bater mais forte; o mesmo que o faria parar de bater.
Não estava em condições psíquicas de ir pra casa, então se encaminhou para uma praça, a pouco mais de dois quarteirões dali. Diferentemente do de praxe, não era inverno, e não começou a chover. Estranhamente, naquele dia o destino não estava para clichês. A primavera derramava suas flores nos bancos, havia cores em todo lugar. Quanta ironia, provavelmente Lucy pensou. Ou talvez as lágrimas impediram-a de ver o quão bonito estava o cenário final.
Oliver saiu desnorteado, à procura de lembranças, à procura de uma solução que não iria encontrar tão facilmente. Se ele sabia? Acho que não, só o destino sabia.
Ah, como eu me delicio com as artimanhas do destino. Ele é irônico, é cruel. É empolgante.
Por mais coincidência que seja, o garoto foi direto pra praça, com uma intuição infalível. Ele não a vira, e Lucy estava imersa em seus pensamentos, talvez deprimida demais para notá-lo. Ele gritava consigo mesmo. Gritava, sem ligar para as pessoas que se afastavam em protesto. Gritava aos quatro ventos que o quão se sentia inútil, e amaldiçoou o sol. Quem era ele para merecer aquele dia? Havia despedaçado o coração de uma garota, havia contestado o seu.
- Lucy, eu te amo. Me desculpe. Eu quero você, Lucy, eu sou um idiota. - berrou solitariamente, atravessando para o outro lado da rua, de frente à praça, e dali ouviu a voz que mais desejava escutar, só que um pouco mais alterada.
- Então por que me deixou ir? - gritou Lucy, da calçada da praça, sorrindo.
- Me desculpe. - continuava hesitante nas suas palavras, e as lágrimas inundavam seu sorriso.
- Sempre que eu puder. - foram as últimas palavras dela. Seus olhos brilhavam tanto, que poderiam iluminar a cidade toda, mas infelizmente se apagariam logo.
Lucy atravessava a rua para dar um motivo concreto para seu sorriso, quando foi interrompida. A exatos dez metros dela, um motorista de ônibus se esforçava para controlar a raiva e a frustração, fazia força para permanecer sem lágrimas.
Uma pequena observação:
Naquele dia houve lágrimas demais.
Todos os esforços dele foram em vão e só o baque surdo provocado pelo encontro de Lucy e o ônibus interrompeu seus pensamentos depressivos. Seu time tinha sido desclassificado, era uma derrota pessoal. Não me atreverei a julgá-lo.
Naquele momento uma vida deixou outra sem par. Mas olhe pelo lado bom: um sorriso e um perdão antecipou todos os acontecimentos, enquanto a primavera continuou na produção de lindos cenários. Só coisas de primavera.
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