The little wives.
Ah, as esposinhas! Tão automaticamente felizes, tão submissas, tão bem casadas! Ah, as esposinhas! Veja como são graciosas, sempre arrumadinhas, comportadas e bem vestidas! As esposinhas, com seus maridos executivos, sempre prontas pra qualquer jantar ou reunião inesperada. As esposinhas, com seus maridos funcionários públicos, sempre prontas pra qualquer demissão ou hora extra inesperada. Ambas sempre preparadas pra algo fora do normal. O marido chega e lá estão elas, de camisola de renda e pantufas de estampas delicadas, aparentemente felizes mesmo depois de um dia cansativo. Não gostam de fazer cara feia pra marido, nem reclamar e muito menos desabafar. Imagine? É só uma esposinha. O jantar fica prontinho no fogão toda noite, só esperando o marido chegar, vê se pode um chefe de família dormir com fome depois de um dia de trabalho? Os filhos todos guardadinhos nas camas, a esposinha já preparou tudo. Parecem até um robô, essas esposinhas.
Será que tem sentimentos, essas esposinhas? Será que tem sonhos? Ah sim. Não se engane, as esposinhas sentem e sonham também. As esposinhas não só escolhem detalhadamente se o guardanapo vai ser creme ou casca-de-ovo, ou a cor do piso da sala ou do acabamento do quarto das crianças. Também não só bordam almofadas enquanto o marido ronca no sofá do lado ou tem uma reunião. As esposinhas não sonham só com uma cozinha feito a da novela das oito, ou com uma família feliz, estereótipo das revistas de Casa&Vida. Algumas sonham em lançar um livro de receitas, outras em ser enfermeira-chefe. Uma pena que algumas se limitem a ser donas do lar, sempre perfeitinhas em seus chinelinhos bordados.
As esposinhas escolhem minimamente como vão se comportar, o que vamos comer no almoço? Elas decidem, elas tomam conta de tudo. E fingem não sentir. Essas esposinhas só choram no banheiro ou no caminho mercado-casa/casa-mercado, onde é que já se viu se deixar ver chorando pelos cantos? A esposinha tem uma reputação a zelar, não é? Reputação essa conjunta, já que a do marido conta com a participação dela. Mas é orgulhosa, não se deixa abalar. Afinal, conseguiu realizar o sonho que botaram na sua cabeça desde criança, não é? Ela tem uma casa e uma família feliz.
Porém, algumas esposinhas se rebaixam demais. As mesmas esposinhas que se contentam com um sexo meia boca no final de semana, que deixam passar quando tem roupa suja dentro do box ou toalha molhada em cima da cama. Mas sempre constantes, fazendo-se de satisfeitas, pois mesmo com o marido pensando em outras, lá estão elas, foi ela que se casou. Ela foi a escolhida, então o que mais importa? Nunca pensaram em ser donas do próprio nariz, e não da máquina de lavar, e se pensaram, mudaram logo o rumo dos pensamentos e foram fazer um bolo. As esposinhas, tão bonitinhas, ora, com suas batalhas pessoais no fundo da gaveta. Mas não há uma sequer que diga ser infeliz. São todas felizes, todas satisfeitas com sua casa de boneca em tamanho real. Ah, as esposinhas!
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