heroes.
Nico decidiu nunca mais sentir nada. Nem medo, nem amor, nem ódio, nada nada nada, só pra não ter porque se preocupar ou se proteger. Então Nico descobriu dentro dele o poder de salvar. Ele podia voar, curar ou até morrer e renascer depois, desde que fosse pra salvar a vida de outra pessoa. Porém Nico não entendia porque, por que tinha aqueles poderes todos se não sentia nada pelas pessoas? Como poderia ter tudo para salvá-las, se não tinha amor nem vontade pra fazer isso? Por tanto tempo Nico ficou confuso, isolado dentro do seu mundo composto por um bule de chá -que nunca se esgotava- e por um rádio velho de onde ele ouvia as notícias desastrosas que ele sabia poder evitar. Então, certa noite, enquanto ele fitava o teto, as estrelas passaram por ele e vieram dançar ao seu lado. "Eu posso ver através das coisas!", concluiu Nico, pensando que toda circunstância de usar seus poderes apenas para o bem tinha mudado: ele estava livre. Nico saiu pela noite como um morcego, com uma capa preta psicológica que tapava toda sua consciência. Mas Nico estava parcialmente enganado; se perdeu no mundo e foi surrado, humilhado e de nada adiantaram seus poderes, porque ele queria apenas salvar a si mesmo. Ele ficou deitado em meio aos sacos de lixo esquecidos pelo caminhão de coleta, em um beco sem saída em uma rua desconhecida de um país que era um péssimo anfitrião. De olhos fechados, viu chegar um clarão de machucar suas pálpebras, então se esforçou para abrir os olhos, atemorizado. Tinha voltado a sentir e nem havia percebido. Estava triste, decepcionado consigo mesmo e com o resto do mundo, estava sozinho, perdido e longe de casa. Então algo dentro da luz perguntou "Nico, é você? Está me ouvindo, Nico?" e ele não entendia, será que tinha morrido? Por que toda aquela luz sabe seu nome? "Quem é você?" disse, com medo disfarçado em uma superioridade desnecessária e evidentemente falsa. "Nico, não se preocupe, eu vou te ajudar, você vai ficar bem, ok?", foi o que ele ouviu, quando, de repente, tudo virou escuridão.
Esperava acordar e se encontrar em um hospital, ou no inferno, na pior das hipóteses. Porém, acordou no meio de uma relva incrivelmente verde, salpicado de pequenas flores silvestres, enquanto uma menina, que ele reconheceu como uma antiga amiga do colégio, fitava-o, esperando alguma reação. "Onde eu estou?" -a pergunta de praxe- e foi calmamente respondida com um dar de ombros. "Acho que não importa isso agora, certo? Está tudo bem agora, coma um pouco disso", a menina disse enquanto tentava firmar em sua mão um copo de leite. Nico se sentou, olhou ao redor e se surpreendeu quando, ao olhar para a menina, viu que seu coração era dourado. Dourado como ouro derretido, era quente e aconchegante. Então, pela primeira vez em muito tempo, Nico conseguiu sentir algo bom que anestesiava todos os seus medos e decepções. Nico se deu conta que, ao ver o coração de sua amiga e sentir aquilo, estava brilhando como ela. Como um luzeiro. Então soube que não iria ficar mais sozinho, e que agora podia sentir qualquer coisa, até amor. Ele soube que podia muito bem amar e não sofrer por isso. Havia perdido todos seus poderes, mas isso não impediu-o de sair daquele lugar tão lindo para levar pessoas que estavam como ele esteve, jogadas em meio ao lixo, para uma nova vida.
Então ele andou por aí, como um legítimo super-herói sem poder nenhum, mas com o dom de amar.
Comentários
Postar um comentário
Observações