leaving the past.

Estou de mudança. Não num sentido figurado, como uma analogia bonita de que estou crescendo por dentro. Estou de mudança de morada, abraçando o literal. Há quinze anos que moro nessa casa. Fui concebida aqui, talvez na noite de ano novo, se eu pensar bonito. Com os fogos de artifício brincando e fugindo do quartel militar aqui perto de casa, e eu virando um zigoto. De qualquer forma, são quinze anos. Não apelaria para o clichê de que 15 é um número significativo. Considero apenas um fato. Irei me mudar e pronto. Não terei mais o acolhedor abraço da minha avó todos os dias, nem os vizinhos com quem cresci junto, nem meus tesouros enterrados no quintal, nem meus brinquedos soterrados e escondidos pelo terreno... Minha infância vai ficar aqui me esperando. E quando eu voltar para visitas, eu a visto e finjo que o mundo é todo azul céu, e brinco de bolinhos de lama com recheio de ossos e cobertura de ervas para chá.
A casa nova é um pouco menor. Não dá pra fazer um show de dança no meu quarto, porque ficou mais estreito, nem na cozinha, que virou um cubículo. Mas temos um banheiro no quarto da minha mãe (o que não influencia nada no meu, a não ser a ausência de sujeira masculina), uma sala de estar acoplada à de jantar e muitos sonhos. Um escritório, um cachorro (por que não um gato?), uma sala de música, um quarto para as máquinas de costura. E a esperança da minha mãe de morar comigo até meus 22.
Daqui dois anos estou na universidade. E depois eu me caso. Meus filhos. E depois com eles acontece tudo de novo, se Deus quiser. Minha infância manda um abraço e diz que vai me esperar aqui sempre que eu quiser vê-la, e meu futuro diz que o tempo já está passando.

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