menina-mulher ou mulher-menina.

Nas simbologias das escritoras femininas, bolsas de adultos em crianças representam a vontade de crescer. Mania boba essa de criança de querer ser grande logo. De menina pra mulher, eu quero mesmo é de mulher pra menina. Velha, mulher, menina. Assim, e não ao contrário. Se pudesse escolher, largava meus sapatos pretos, voltaria a usar minhas sandálias de borracha cor-de-rosa, meus lindos vestidos rodados, meus lacinhos no cabelo, minhas marias-chiquinhas. Largaria, sem pensar duas vezes, meu batom vermelho, minha liberdade e voltaria às limitações da infância. Ser mulher é pesado pro meu coração de criança. A realidade de ser mulher, nem menina nem moça, mas mulher, mulher feita, ah, é pesada demais pra minha mente limitada pelo desejo de Peter Pan. Não me sinto pronta pra crescer. Talvez seja criança demais e queira ser mais ainda pelo simples fato de ser mulher envolver querer ser menina, e de ser menina envolver querer ser mulher. A satisfação nunca nos alcança, se seguirmos esse raciocínio. Se vivesse do passado de menina, nada teria passado e eu ainda seria menina. Acontece é que quanto mais futuro chega e passa, virando passado, mais o passado mais passado se torna estúpido à minha mente crescida. Me torno insuportável para meu eu infantil de anos atrás, e insuportável para meu eu futuro de anos à frente. Lidando com isso, focando mais nos dois extremos do que na média do tempo, sendo essa média o hoje, o agora, o presente, me sinto insuportável hoje para mim mesma, para mim mulher-queredora-de-ser-menina. 
De tanto sufocar meu desejo infantil de ser mulher, me tornei mulher, e de tanto não querer ser mulher -do desejo de agora-, me tornei mulher. Não havia como adiar, eu acho. Acontece é que o não querer continua ali, o arrependimento de ter permitido a mulher florescer, se é que ela já não estava em mim o tempo todo disfarçada de menina. Mulher já feita pode usar máscaras, e talvez eu tenha usado por algum tempo a máscara de menina, na não-querência de ser mulher. Vai ver eu não virei mulher agora, de repente, vai ver venho virando há algum tempo. Seja o que for, não quero. Ou quero disfarçado de não-quero. Não sei mais. Mulher que vem da menina é incerto assim? Junto da mulher vem o medo da menina, porque, apesar de dizerem o contrário, muita coisa muda sim. Espero sobreviver e ter intacto meu coração infantil, meu coração menina, porque ele pode deixar espaço pro coração de mulher. Tenho medo de que o coração de mulher não deixe espaço pra mais nada. Mas vamos ver como vão se acomodar. 
Me desejem sorte. 

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