Sobre o vazio.
Ausência é vazio.
Algo foi deixado às pressas, a cama ainda estava desarrumada, o pão meio comido sobre a mesa, quando saiu na correria de praxe em busca de algo para fazer que garantisse o pão do próximo dia. Ou vai ver, nem havia pressa, havia só desgosto de pão. Decidiu-se que hoje não comeria o pão todo, o que abriria espaço no estômago para comer algo mais tarde, antes do almoço. Ou ainda (quem sabe!), recebeu uma ligação daquela guria jeitosa que sempre o encarava bem encarado todos os dias na porta da faculdade, dizendo para encontrá-la em tal lugar, agora, e ele foi.
Talvez fosse também entregador de más notícias. Ou, sendo otimista, entregador de boas notícias. Vai ver estava indo pro trabalho, onde vendia pipoca para as crianças a troco de desenhos caricaturais. Ou vai ver era atendente daquela lanchonete onde os salgados dividem espaços com os mosquitos dentro daquela mini estufa.
Independente disso, o que sobrou hoje foi um corpo jazendo sobre uma maca na sala de cirurgia. Um corpo pendurado por um fio, como as roupas num varal num dia que vem tempestade, precedida de ventania. O vento vai foooooorte, e você sabe que aquela roupa vai cair na lama, mas não sabe até quando ela vai suportar.
O menino nunca chegou onde devia chegar, no fim das contas. Talvez não vá atrás da garota, que estava se fazendo de difícil o tempo todo, mas que gostava do jeito que ele sorria envergonhado - ou não - quando ela o encarava. Talvez as crianças da minha mente fiquem cheias de desenho e sem pipoca. Talvez não haja mais ninguém naquela maldita lanchonete pra tirar os mosquitos de lá e dar bom dia pro freguês de todos os dias.
Acontece que aquele menino estava andando, e agora não está mais. Acontece que aquele menino respirava, e agora não o faz mais sozinho. Acontece que aquele garoto tinha todos os seus ossos inteiros, completos, e tinha cerca de 6 litros de sangue no corpo. Hoje não tem mais. Hoje tem mais fragmentos do que coisas completas dentro de si: fragmentos de ossos, fragmentos de sonhos, fragmentos de memória que vão e voltam conforme a sedação anda na sua curva de variação, fragmentos de destino que talvez sejam a sua vida toda. Acontece que naquele dia de manhã, havia um menino semente, e hoje tem um menino que foi arrancado da terra e está posto num vaso com água pra ver se sobrevive. Acontece que hoje o coração dele ainda bate, mas talvez amanhã não seja mais assim.
acontece que eu não sei lidar com isso muito bem.
acontece que vou acabar procurando por ele a vida inteira.
acontece que eu não sei se consigo ver alguém partir assim, tão incompleto.
Aliás: será que incompleto?
Meus pensamentos incompletos completam minha angústia.
Algo foi deixado às pressas, a cama ainda estava desarrumada, o pão meio comido sobre a mesa, quando saiu na correria de praxe em busca de algo para fazer que garantisse o pão do próximo dia. Ou vai ver, nem havia pressa, havia só desgosto de pão. Decidiu-se que hoje não comeria o pão todo, o que abriria espaço no estômago para comer algo mais tarde, antes do almoço. Ou ainda (quem sabe!), recebeu uma ligação daquela guria jeitosa que sempre o encarava bem encarado todos os dias na porta da faculdade, dizendo para encontrá-la em tal lugar, agora, e ele foi.
Talvez fosse também entregador de más notícias. Ou, sendo otimista, entregador de boas notícias. Vai ver estava indo pro trabalho, onde vendia pipoca para as crianças a troco de desenhos caricaturais. Ou vai ver era atendente daquela lanchonete onde os salgados dividem espaços com os mosquitos dentro daquela mini estufa.
Independente disso, o que sobrou hoje foi um corpo jazendo sobre uma maca na sala de cirurgia. Um corpo pendurado por um fio, como as roupas num varal num dia que vem tempestade, precedida de ventania. O vento vai foooooorte, e você sabe que aquela roupa vai cair na lama, mas não sabe até quando ela vai suportar.
O menino nunca chegou onde devia chegar, no fim das contas. Talvez não vá atrás da garota, que estava se fazendo de difícil o tempo todo, mas que gostava do jeito que ele sorria envergonhado - ou não - quando ela o encarava. Talvez as crianças da minha mente fiquem cheias de desenho e sem pipoca. Talvez não haja mais ninguém naquela maldita lanchonete pra tirar os mosquitos de lá e dar bom dia pro freguês de todos os dias.
Acontece que aquele menino estava andando, e agora não está mais. Acontece que aquele menino respirava, e agora não o faz mais sozinho. Acontece que aquele garoto tinha todos os seus ossos inteiros, completos, e tinha cerca de 6 litros de sangue no corpo. Hoje não tem mais. Hoje tem mais fragmentos do que coisas completas dentro de si: fragmentos de ossos, fragmentos de sonhos, fragmentos de memória que vão e voltam conforme a sedação anda na sua curva de variação, fragmentos de destino que talvez sejam a sua vida toda. Acontece que naquele dia de manhã, havia um menino semente, e hoje tem um menino que foi arrancado da terra e está posto num vaso com água pra ver se sobrevive. Acontece que hoje o coração dele ainda bate, mas talvez amanhã não seja mais assim.
acontece que eu não sei lidar com isso muito bem.
acontece que vou acabar procurando por ele a vida inteira.
acontece que eu não sei se consigo ver alguém partir assim, tão incompleto.
Aliás: será que incompleto?
Meus pensamentos incompletos completam minha angústia.
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