Dois rapazinhos.
Aí chegou essa garota. Não parava de falar, e falava com a propriedade de quem pode sair pegando meu sotaque e me ordenando coisas e agindo como um grande amigo mais velho, que sabe mais das coisas do mundo. Ela é pouco mais velha do que eu, e tem um brilho nos olhos e um sorriso no coração que é difícil não querer vê-la de perto. Olhá-la. Ver de onde vem esse brilho lá de dentro, de onde brota esse sorriso lá no mediastino. Tocá-la. Ver se dissolve-se ao toque, se resiste ao calor, ao ácido do suor das minhas mãos que aparecem quando a vejo em meu campo de visão. Conversar com ela, ouvir sua voz, independente se falo algo com sentido ou não. É consentido? É perceptível? Me levanto, quero ser visto também. Falo, porque também quero ser ouvido por ela, será que ela percebeu que forço um pouco o sotaque porque sei que ela gosta? Será que ela percebe que quero ver seus lábios se mexendo sem parar, mesmo sabendo que não posso tê-los nos meus? Mesmo assim gosto das cores com que ela os enfeita, gosto dos formatos que ele tem quando ela faz uma constatação óbvia e ainda assim ri.
Ela não enxerga de longe - miopia. Lembro do dia em que me contou, há alguns meses, e temo que ela tenha percebido que eu não me esqueci disso, apesar do tempo e da baixa relevância. Mas eu me lembro, e a perdoo por não me enxergar pelas ruas. Não me intimido dessa vez, e chamo-a todas as vezes que posso. Preciso falar com ela, preciso tocá-la despretensiosamente, dando sinais sutis de que ela é uma pessoa incrível. Ela é tão linda. É difícil não ser um dos seus grandes amigos, orbitando em torno da grande estrela que ela é. Engraçada, inteligente, esperta, amável, amigável... Puxa!
Puxa.
Mas que puxa, cara.
Mas que puxa, cara.
- É, rapaz, mas que puxa... Já tentou falar com ela?
- ....
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