desgostosa desesperança inútil.
Sinto que criei
um mecanismo de defesa mental contra um momento de determinada consulta que realizei. A mulher diante de mim, no papel de minha paciente, não
tem mais um rosto, não tem mais um nome, mas me assombra me apontando minhas
fragilidades e incompetências. Me assombra um rosto borrado de lágrimas, com as
mãos nas minhas, o rosto deformado pela tristeza, dizendo que já não serve para
mais nada, “como um parafuso velho”. Penso que esse momento me assombra porque
eu já estive, de maneira mais que mínima, nesse papel, nesse corpo sem forma
que chora e (re)clama sua inutilidade. E o que fazer, senão abraçar, senão orar
por uma alma tão sofrida que tem a vida mas não sabe o quanto vale? Minhas
palavras foram como peneira em dia de tempestade, de nada serviam. Sei que meu
esforço foi visível, mas ela sabia o quanto eu não podia ajudá-la, o quanto eu
era inútil “como um parafuso velho” naquele momento, como ela disse sobre si
mesma. Senti também o desgosto dela em saber que não podíamos ajudá-la. Não um
desgosto de quem se ira contra aquele que é inútil, mas um desgosto desgostoso,
triste, permeado por uma vontade de que fôssemos esperança.
Espero ser esperança.
E possuí-la.
Espero ser esperança.
E possuí-la.
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