internato.

Não sei se por amor ou por ansiedade, mas hoje eu não consegui dormir.
Passei a noite em claro com movimentos oculares semelhantes ao nistagmo, só que mais lentificado e um tanto pouco patológico. O coração seguiu taquicárdico, mas não chegou a se tornar uma crise de pânico. O pensamento dava voltas, correndo e às vezes dormindo em todas as minhas redes de neurônios.
Será essa a cabeça de todo recém-interno?


O nervosismo é o primeiro sintoma que me indica o novo papel. O contrato de responsabilidade que assinei, de forma figurada, ao aceitar aquele crachá com o título de interno. Se meu interior está vazio, uma vez que tudo correu pra se esconder do novo, será que serei uma interna com algo a oferecer?
Como previsto por todos os professores, a insegurança é um grande companheiro do nervosismo. Os dois andam juntos, reconhecendo o território como hostil, tamanho é o medo de não bastar. O receio humano de falhar, potencializado pela percepção do objetivo do esforço tão passível de erros: a meta de cuidar.
Depois de muito rejeitar a medicina como profissão, devido à aversão a alta demanda de tempo e energia que ela me custaria, a escolhi pelo mesmo motivo. Afinal, que finalidade tem a vida, se não é manter o ciclo da vida com qualidade e excelência até o fim? Claro que eu posso entregar minha vida inteira em prol dos outros. Vou fazer medicina!

Mas não é e nem deve ser assim, cara eu mesma. Até aqui você já aprendeu que uma vida só pra isso, nem pra isso serve. Uma vida vazia de tudo pra caber só medicina, é uma vida de nada, uma vida de teoria. Porque não é a medicina que nos faz humanos, mas somos nós, com nossos sonhos, nossos hobbies, nossas reflexões, nosso tempo gasto com os amigos e familiares, que fazemos a medicina mais humana.
Então que haja em nós a ousadia de não só cuidar do próximo, mas de cuidar de nós. Amar a nós mesmos, para que nosso amor ao próximo seja sadio, completo e verdadeiro.

Que venha o internato pra me ensinar a ser uma humana melhor. E que venha a vida até a formatura pra me fazer uma médica melhor. Afinal, é tudo uma coisa só.

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