obra da vida.

Devido à mente vazia, procuro material bom (ou ruim?) suficiente para preenchê-la. Sinto a necessidade, talvez, de sentí-la estufada, lotada, ultrapassando os limites saudáveis da mente normal. São pensamentos que vou empilhando, um a um, de forma muito organizada, categorizados em estantes de temas da vida para que eu reclame com petições formais de solicitação de melhoria nas estruturas imaginárias de tais temas. Eu faço a vida toda caber em caixinhas, em livrinhos, em anotações, em estantes. Em lixo. E tudo assim, classificado etimologicamente, perde o valor e o sentido. 

Na ociosidade dos dias, procuro distrair-me com as peças que o destino joga sobre o tabuleiro, pro tempo e o vento moldarem à seu gosto. As peças que compõem o grande quadro artesanal e rusticamente construído, descontraidamente porém de forma calculada, outrora chamado de existência terrestre. 
Eu olho para a obra e me questiono dos significados ocultos de cada pincelada, de cada tecido colado e com a borda pendente, da poeira que se aloja nos sulcos da tinta que se moldou à vontade do autor. Seriam esses olhos, no canto superior esquerdo, de tons amarronzados, com ar cinquentista e com algo surrealista, uma referência a infância do meu pai e como isso interfere com meu modo de me relacionar com o sexo oposto? Seria a escolha dessa tonalidade de azul a forma de representar como me sinto nos dias em que chove enquanto faz calor? E assim vou inventando sentido, criando significados e imaginando motivos e razões do universo para as coisas serem como são. Como se SER não fosse o bastante para as coisas do cosmos. 

Razão, sentido, motivos, circurstâncias... o método científico é humano demais pra esse Universo que não perde tempo em explicações? 


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