A noite em que eu não dormi, por ser paciente.

Confesso que sei que escrevo para mim mesma, mais para tentar compreender e apreender - amo essa expressão - do que pra outra coisa, porque sei da singularidade dos meus sentidos nesse momento. 

Sinto  medo de adormecer e acordar com menos outra parte de mim. 

Naquela noite, eu dormi com as mãos na cabeça e acordei sem sentir-me eu mesma do peito pra baixo. Como que imersa em um lago gelado, que desse aquele choque térmico sem término nem fôlego e assim me deixasse. E depois disso, tudo foi correria, foi incerteza, foi medo. 

Por isso, quando eu deito com o umbigo voltado pro teto e as mãos na cabeça, me pego com medo de acordar com menos de mim de novo. Não que tenha voltado muita coisa, apesar de eu não poder reclamar da evolução, mas eu confesso que esperava mais até o momento. Esperava ter voltado a sentir minhas sensações como antes, o toque do lençol ou do cobertor nos meus pés, o calorzinho áspero dos pés do meu companheiro, as mãozinhas rápidas e certeiras da minha irmã que massageia meu pé vez ou outra. Mas ainda sinto tudo dormente, adormecido, pelas metades. 

Temo não voltar ao normal, e seguir assim, sem saber porque nem como tudo me aconteceu. 

Sinto, às vezes, as vísceras como de dentro pra fora. Medicamente insano, eu reconheço, completamente encaixável em alguma alteração psiquiátrica, mas não menos real. Sinto uma pressão comprimindo o peito como uma cinta, e comprimindo meus pés como uma meia, e algo dentro do meu estômago que se projeta pra fora, bem como da parte excretora dos meus sistemas. Sinto anestesiada o meu íntimo, sinto doendo a parte certa de onde eu sei que a lesão está, irradiando pra minha cabeça, bem aqui na frente, onde ela aperta e dói sem dar sossego. Me lembrando que eu não estou bem ainda, que eu estou doente. 

Estou doente, não sou doente. Me lembrarei de nunca colocar a doença como estado de ser, dada a dureza e a dor que essa afirmação carrega em si. 

Me sinto com medo de ser paciente pra sempre: ninguém deveria ficar doente sempre. E esse receio constante de que algo vá dar errado? A ansiedade de sempre anda por aqui cada vez mais forte, com seu bando ordinário de gente à toa pra me importunar. Digo apenas de forma figurada, me entenda, não me confunda com esquizofrênicos - todo o respeito a estes, assim mesmo. 

Vou tentar de novo. Vamos de novo. Again. Rumo ao hexa. 

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