agrofloresta.

 Eu vi o Cristo. 


No monte onde Cristo estava, me foi mostrado o passado, o presente e o futuro, como o apocalipse sendo mostrado a João.

Eu vi as árvores frutíferas tentando crescer em um terreno pobre e acidentado, sob condições climáticas desfavoráveis. Sob a ação do vento forte, do homem mau e das consequências de uma terra sem nutrientes. Eu vi os mecanismos de sobrevivência como se da primeira vez, me vi oferecendo-os aos que agora tentam brotar, na esperança de que consigam o mesmo destino que eu. Eu assisti tudo de novo, diante de mim, ao alcance da minha mão, mas nada pude fazer, como da primeira vez. Não há culpa, há? Há vulnerabilidade, despreparo, imaturidade, desesperança e mais outras coisas. 

Nas visões do passado, eu também vi coisas lindas. Revi jardins vivos e cheios de vida, com plantas crescendo sem limites e sem cobranças, seguindo o caminho do sol e dos muros, das pedras, das outras plantas, se entrelaçando e compondo um grande mecanismo autossustentável. Eu vi a agrofloresta, a tentativa de reestabelecer e de curar um solo danificado, trazendo de volta o que é primitivo -- sabedoria ancestral. Vi a importância da variedade de culturas no solo pra trazer vida de forma variada.

Revi minha gente: alegre, acolhedora, generosa, leve, engraçada, versados na hospitalidade e na vida bem vivida, aproveitando cada nascer e por-do-sol, aproveitando a chuva que cai leve e a que cai brigando, aproveitando a noite sem lua pra ver estrelas cadentes e a noite com lua pra contar histórias de homens que são um pouco bichos periodicamente. Minha gente que valoriza o que é importante e que dispensa, sem palavras, preocupações das quais não pode cuidar ou desfechos que não pode mudar. É gente que gosta de bicho igual gosta de gente, que cuida de planta como se fosse do próprio corpo, que sabe do equilíbrio e da interdependência das coisas todas. É gente sábia, que observou e repara em tudo, que tem sua cadência de prosa, seu encadeamento de causos e todo seu jeito de falar que faz carinho no ouvido de quem para pra escutar. 

Então vi o presente: subi a montanha. Galguei incessantemente os caminhos que me trouxeram até aqui, ora feliz, ora desesperançosa, ora empolgada, mas aparentemente, sempre seguindo. As coincidências (ou destino?) que me levaram de volta ao início de tudo, de onde tudo veio e pra onde tudo foi e vai. De onde eu vim e, agora, pra onde eu posso ir, se quiser. 

O futuro? Não vi. Mas sei que ele pode estar lá. 

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